Ficaríamos surpresos ao saber o que podemos suportar quando não temos escolha.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Finados

Dia de Finados. Dia de nos lembrarmos das perdas mais significativas que tivemos, certamente, já que as perdas de entes queridos provavelmente são as causadoras das piores dores que alguém possa sentir.
É certo que temos a noção da temporariedade das coisas terrenas,  contudo esta noção parece ser superficial, pois quando deparamos com uma perda deste quilate, despertamos verdadeiramente para a cruel realidade. 
Entretanto, há aqueles que interpretam de outra forma o período temporário que passamos com aqueles que nos são caros. Lembro do discurso feito pelo pai de um jovem falecido aos 20 anos de idade, muito querido por todos, durante a cerimônia de sepultamento. Esse pai, um senhor bastante religioso, ao se despedir do filho, agradeceu a Deus por ter tido a oportunidade de ter sido pai de uma pessoa tão especial. Em momento algum ele sequer lamentou o episódio, justamente porque ele não o encarou com uma perda, mas como o fim de um período que ele ganhou ao lado do filho querido.
Outra coisa comum de acontecer é a transformação que as dores da perda promovem em algumas pessoas. Sabemos que experiências dolorosas acabam nos forçando a melhorar a um nível mais profundo, mas abro um parêntese para enfatizar que é possível aprender sem sofrer, para não cairmos na crença que muitas pessoas têm de que somente por intermédio do sofrimento é que crescemos. O fato é que essas pessoas, transformadas pela dor da perda, acabam buscando o caminho do crescimento pessoal, modificando atitudes e pensamentos, e isso acaba se refletindo em uma vida mais harmoniosa e feliz. Algumas até transformam essa dor em ações cujo intuito é impedir que outras pessoas passem por situação semelhante, criando, por exemplo, instituições beneficentes voltadas a combater aquele motivo de sofrimento, como fez  a da Sra. Lucinha Araújo, mãe do cantor Cazuza e diretora geral da fundação que leva o nome de seu filho.
Mas o que quero destacar de fato, é que, independentemente da reação que se tenha diante de tais perdas, é necessário não se tornar algoz de si mesmo, emitindo um autojulgamento pela culpa advinda da crença de que devemos sofrer para provar que amamos quem se foi. Há inclusive a crítica social interpretando que quem não demonstra um sofrimento maior é porque não se importou com a perda.
Esse tipo de pensamento serve como um mecanismo de perpetuação do sofrimento. A mente humana, condicionada por muitas gerações, acaba, até de forma inconsciente, aproveitando oportunidades para se manter no padrão do sofrimento. A maioria das pessoas acaba cultivando nem que seja uma dorzinha por causa desse mecanismo. Mas o que quero deixar claro, é que podemos ficar em paz se nos mantivermos ligados ao objeto de nossa perda pelo amor, sem precisar da dor.
Como disse a atriz Cissa Guimarães, que perdeu o filho atropelado em julho de 2010, quando o rapaz tinha apenas 18 anos: “A  dor é minha, vai embora comigo quando eu fizer a passagem”, “Eu cuido dela, eu aceito ela, eu respeito... e assim eu crio um espaço para que a alegria possa conviver com a dor”.

Henrique

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