Ficaríamos surpresos ao saber o que podemos suportar quando não temos escolha.

domingo, 13 de novembro de 2011

Usando o "Eu"

Já repararam como a maioria das pessoas tem dificuldade em usar o pronome Eu mesmo quando fala de si? É comum se ver pessoas falando Você, Nós, A gente, mas referindo-se a elas mesmas. Parece ser esse um hábito linguístico que eu atribuo ao preconceito de que é egoísmo falar na primeira pessoa ao se dirigir a outras pessoas; outro motivo, penso eu, seria amenizar o peso que o termo Eu tem quando empregado para se falar das próprias limitações.
Vou exemplificar para tentar esclarecer melhor esse meu ponto de vista.
Imaginem uma pessoa desabafando por conta de uma decepção no local de trabalho: “Você trabalha, trabalha e mesmo assim ninguém dá valor...”, enquanto ela quer dizer: “Eu trabalho muito e ninguém reconhece meu esforço...”
Nesse caso, parece que a pessoa tem vergonha de falar de si, de admitir que sofreu uma decepção.
Outros dois exemplos.
Um indivíduo justificando um possível excesso de cuidados pessoais: “Sabe como é, né? A gente é vaidoso e quer mesmo ficar bonitão.”, Quando na verdade ele está dizendo: “Eu me cuido  por ser vaidoso e me preocupo com minha aparência.”
A mãe que superprotege o filho, evitando que ele adquira experiências próprias: “A gente não deixa os filhos fazerem muitas coisas mesmo. Mas é assim, gente. Mãe é mãe. E mãe é tudo igual.” Querendo dizer: “Como mãe, eu me preocupo demais e não consigo libertar meu filho.”  
Psicologicamente, nesses dois casos, parece ser mais confortável evitar o uso do Eu, já que assim, tanto o indivíduo quanto a mãe se incluem numa coletividade, onde eles não estão sozinhos em suas evidentes características
.
Para quem busca o autoconhecimento, eu vejo como uma necessidade o uso do Eu. Simplesmente porque eu sou a única pessoa que pode falar de mim e por mim, com alguma precisão (mesmo porque nem eu me conheço precisamente). Quem se atreva a falar de mim ou por mim, nunca terá a certeza que eu mesmo tenho. Da mesma forma, a única pessoa por quem e de quem eu posso falar, sou eu. Falar dos outros, além de tudo, é um julgamento preconceituoso ou, no mínimo, preconcebido.

Henrique

Nenhum comentário:

Postar um comentário